Previsão de início de um novo evento de La Niña para a próxima primavera
- laisgfernandes
- 11 de jul. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 13 de set. de 2021
Previsores climáticos da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), Climate Prediction Center (CPC), dizem que há 55% de probabilidade de um evento La Niña retornar durante a próxima primavera do Hemisfério Sul e persistir durante o próximo verão. Um evento anterior de La Niña foi observado no verão de 2020/21.
Figura 1: Anomalias de temperatura da superfície do mar em junho de 2021. Imagem de Climate.gov.
Em junho, a temperatura superficial no Oceano Pacífico ficou próxima dos valores climatológicos entre 1991 e 2000, ou seja, o fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS) retornou para a sua fase neutra, incluindo a temperatura superficial sobre a importante região Niño 3.4, utilizada para monitorar as fases do ENOS. A temperatura registrada em junho para esta região foi -0,25°C, portanto, dentro do intervalo para a neutralidade do fenômeno.
O gráfico abaixo mostra a previsão probabilística para o fenômeno ENOS realizada pelo CPC. O CPC emitiu um alerta, denominado La Niña Watch, indicando condições favoráveis para o desenvolvimento de uma nova La Niña dentro dos próximos seis meses.
Figura 2: Previsão probabilística oficial para o fenômeno ENOS (CPC/IRI). É atualizada na primeira metade do mês. É baseada em informação observacional e preditiva do início do mês, a partir do mês anterior. Imagem de IRI.
Será que é incomum ter dois eventos La Niña em sequencia? É claro que não! Por exemplo, dos 12 eventos La Niña registrados no ano inicial, 8 foram seguidos por outro La Niña no próximo ano, 2 pela neutralidade, e outros 2 por El Niño. Com estes números, os previsores do CPC ficariam mais surpresos se as condições de neutralidade persistissem durante todo este ano de 2021.
No entanto, analisando o valores das anomalias negativas de temperatura da superfície do mar (TSM) na região Niño 3.4 é evidente que este evento não se destaca, como os eventos de La Niña dupla em 1998/1999-1999/2000 e 2010/2011-2011/2012. Por outro lado, ter apenas 12 eventos anteriores de La Niña para comparação, não é algo assim tão confiável.
Qualquer mudança no estado do ENOS é importante devido ao seu substancial impacto nas anomalias de precipitação sobre a América do Sul. Eventos canônicos (ou tradicionais) de La Niña são conhecidos por aumentar a precipitação no nordeste da América do Sul equatorial, via Circulação de Walker, e reduzir a precipitação no sudeste da América do Sul, aumentando a subsidência sobre esta região via Circulação de Hadley (Figura 3). No entanto, a magnitude dos impactos da La Niña sobre a América do Sul depende fortemente da intensidade das anomalias de TSM no Oceano Pacífico equatorial, bem como, da posição destas anomalias que podem ser mais localizadas na região do Pacífico equatorial central ou leste. Estes impactos também variam ao longo das estações do ano.

Figura 3: Anomalias diárias de precipitação em anos de La Niña durante o verão do Hemisfério Sul.
A figura ao lado mostra que a fase negativa do fenômeno ENOS (ou La Niña) pode reduzir significativamente a precipitação sobre o sudeste e centro-leste da América do Sul durante o verão do Hemisfério Sul. Portanto, o ENOS é um modo de variabilidade climática o qual pode contribuir para agravar ainda mais a crise hídrica que está ocorrendo no Brasil durante os próximos meses. Isto porque grande parte das hidrelétricas brasileiras são encontradas sobre estas duas regiões. No caso da região centro-leste, a estação chuvosa ocorre somente durante o verão, o que agrava ainda mais o impacto do ENOS sobre a região.
Referências:
Cai et al. (2020) "Climate impacts of the El Niño–Southern Oscillation on South America", Nature Reviews. https://doi.org/10.1038/s43017-020-0040-3
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